As visitas à Serra das Almas servem para demonstrar a importância de conservar o bioma Caatinga
No dia 28 abril será comemorado o Dia Nacional da Caatinga. Para o secretário executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro, existem muitos motivos para comemorar: "Isso não significa que o caminho não seja muito longo e árduo. Temos a festejar uma mudança de atitude histórica, em relação à Caatinga. Hoje você vê cada vez mais as pessoas interessadas, com vontade de conhecer o bioma".
A preservação da flora e da fauna é destaque na Reserva da Serra das Almas
Segundo Castro, a repercussão da campanha do tatu-bola para mascote da Copa do Mundo, capitaneada pela Associação, é um exemplo do interesse e curiosidade da sociedade, o que mostra que existe disposição para conhecer o diferente. "Para nós essa é a porta de entrada. Precisamos trabalhar essa disponibilidade das pessoas de refazer o conceito delas sobre a Caatinga. Existem sim uma mudança de atitude, uma mudança de visão, porém existem desafios, que são mais velozes do que o nível de conscientização. Então é inversamente proporcional a sensibilização e o seu resultado em relação ao nível de desmatamento", alerta.
Nas trilhas, é possível entrar em contato com diversas espécies típicas da Caatinga
Ocupando cerca de 10% do território nacional, o bioma Caatinga vem sofrendo há décadas um processo de fragmentação em pequena escala, com desmatamentos pontuais em seus mais de 830 mil km² distribuídos em oito Estados do Nordeste (com exceção do Maranhão) e no Norte de Minas Gerais. "É um desmatamento generalizado, mas realizado por pequenos e médios agricultores na busca de abrir mais terra para o cultivo na próxima estação chuvosa, o que está elevando os níveis de desmatamento da Caatinga, atualmente", explica o secretário executivo da Associação Caatinga. Conforme estimativas da Associação Caatinga, pelo menos 50% do bioma já foram desmatados e estão sendo degradados, acelerando o processo de desertificação.
Desde sua criação, em outubro de 1998, a instituição vem desenvolvendo projetos para preservar o bioma e tentar minimizar os impactos da degradação acentuada. Em 1999, com recursos do Fundo Samuel Johnson, criado por um empresário americano, e gerido pela organização internacional The Nature Conservancy (TNC), oito fazendas situadas nos municípios de Crateús e Buritis dos Montes, nos Estados do Ceará e Piauí, respectivamente, foram adquiridas e transformadas em área de preservação. No ano 2000, a Reserva Natural Serra das Almas, com seus 6.146 hectares, foi reconhecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Situada no Sertão dos Inhamuns, a Reserva Natural Serra das Almas, segundo Rodrigo, só funcionou porque contou com o envolvimento das comunidades do entorno no esforço de conservação. "Depois de terem uma fase inicial de desconfiança com perguntas do tipo: ´esse pessoal veio aqui comprar terra para não derrubar, não tirar lenha, não fazer carvão? Para que eles querem?´ Tivemos que romper com um paradigma complicado. Mas, em 12 anos de trabalho, temos 5.700 pessoas no entorno aliadas da Serra das Almas".
De acordo com ele, atualmente mais da metade de toda a população que vive no entorno da Reserva é parceira da Associação Caatinga. "Para nós, isso é uma grande conquista porque, sem eles, não conseguiríamos evitar a caça, queimadas e reduzir o risco de incêndio na reserva. Tudo isso só acontece graças a essa rede de comunitários que de alguma forma estão envolvidos no projeto e que acreditam que o mais importante hoje é a preservação da Serra das Almas", comemora. Mas, no início, não foi tão simples: "Foram anos de muito trabalho e hoje podemos dizer que foi satisfatório. A caça diminuiu bastante, os incêndios florestais, também. E isso é resultado dessa aproximação com a comunidade".
Além do trabalho na Serra das Almas, a instituição tem atuado em outras frentes para ampliação de áreas preservadas, como a promoção e apoio para a criação de novas reservas ambientais: "Trabalhamos dentro de uma lógica de que existem regiões na Caatinga que precisam ser preservadas antes que desapareçam. Esses locais têm uma função muito importante em relação a serviços ambientais, proteção de nascentes, regulação do microclima, atração de chuvas, combate à erosão e fazer frente à questão da desertificação, pois as áreas protegidas têm uma função muito importante neste processo".
Além disso, de acordo com Rodrigo Castro, proprietários rurais são incentivados a criarem RRPNs, propriedades rurais particulares para ampliar as áreas protegidas na Caatinga e o governo do Estado é auxiliado na identificação de novas áreas para criação de Unidades de Conservação (UCs) públicas.
Neste contexto, Castro destaca a importância das UCs como estratégia para mitigar e promover adaptação às mudanças climáticas. Segundo ele, o agricultor que vive na Caatinga só terá alternativas se houver áreas com cobertura vegetal que possam garantir os processos ecológicos mínimos para assegurar a vida, o combate à erosão, o microclima e o controle de pragas.
"A floresta na Caatinga é igual às outras florestas, inclusive nos riscos ambientais atrelados. Se desmatar a Caatinga toda vai ser muito mais difícil enfrentar o aumento de temperatura que já esta acontecendo e vem mais forte no futuro. Sem áreas verdes e que retenham umidade, que protejam as nascentes dos rios, como é que se vai sobreviver ao aumento da temperatura nas próximas décadas entre 2ºC e 6º, conforme o previsto? O que isso implica em termos de propensão à desertificação? Aumenta a evaporação, que já é imensa. A água vai deixar de existir na Caatinga se não tivermos áreas preservadas", conclui.
No dia 28 abril será comemorado o Dia Nacional da Caatinga. Para o secretário executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro, existem muitos motivos para comemorar: "Isso não significa que o caminho não seja muito longo e árduo. Temos a festejar uma mudança de atitude histórica, em relação à Caatinga. Hoje você vê cada vez mais as pessoas interessadas, com vontade de conhecer o bioma".
A preservação da flora e da fauna é destaque na Reserva da Serra das Almas
Segundo Castro, a repercussão da campanha do tatu-bola para mascote da Copa do Mundo, capitaneada pela Associação, é um exemplo do interesse e curiosidade da sociedade, o que mostra que existe disposição para conhecer o diferente. "Para nós essa é a porta de entrada. Precisamos trabalhar essa disponibilidade das pessoas de refazer o conceito delas sobre a Caatinga. Existem sim uma mudança de atitude, uma mudança de visão, porém existem desafios, que são mais velozes do que o nível de conscientização. Então é inversamente proporcional a sensibilização e o seu resultado em relação ao nível de desmatamento", alerta.
Nas trilhas, é possível entrar em contato com diversas espécies típicas da Caatinga
Ocupando cerca de 10% do território nacional, o bioma Caatinga vem sofrendo há décadas um processo de fragmentação em pequena escala, com desmatamentos pontuais em seus mais de 830 mil km² distribuídos em oito Estados do Nordeste (com exceção do Maranhão) e no Norte de Minas Gerais. "É um desmatamento generalizado, mas realizado por pequenos e médios agricultores na busca de abrir mais terra para o cultivo na próxima estação chuvosa, o que está elevando os níveis de desmatamento da Caatinga, atualmente", explica o secretário executivo da Associação Caatinga. Conforme estimativas da Associação Caatinga, pelo menos 50% do bioma já foram desmatados e estão sendo degradados, acelerando o processo de desertificação.
Desde sua criação, em outubro de 1998, a instituição vem desenvolvendo projetos para preservar o bioma e tentar minimizar os impactos da degradação acentuada. Em 1999, com recursos do Fundo Samuel Johnson, criado por um empresário americano, e gerido pela organização internacional The Nature Conservancy (TNC), oito fazendas situadas nos municípios de Crateús e Buritis dos Montes, nos Estados do Ceará e Piauí, respectivamente, foram adquiridas e transformadas em área de preservação. No ano 2000, a Reserva Natural Serra das Almas, com seus 6.146 hectares, foi reconhecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Situada no Sertão dos Inhamuns, a Reserva Natural Serra das Almas, segundo Rodrigo, só funcionou porque contou com o envolvimento das comunidades do entorno no esforço de conservação. "Depois de terem uma fase inicial de desconfiança com perguntas do tipo: ´esse pessoal veio aqui comprar terra para não derrubar, não tirar lenha, não fazer carvão? Para que eles querem?´ Tivemos que romper com um paradigma complicado. Mas, em 12 anos de trabalho, temos 5.700 pessoas no entorno aliadas da Serra das Almas".
De acordo com ele, atualmente mais da metade de toda a população que vive no entorno da Reserva é parceira da Associação Caatinga. "Para nós, isso é uma grande conquista porque, sem eles, não conseguiríamos evitar a caça, queimadas e reduzir o risco de incêndio na reserva. Tudo isso só acontece graças a essa rede de comunitários que de alguma forma estão envolvidos no projeto e que acreditam que o mais importante hoje é a preservação da Serra das Almas", comemora. Mas, no início, não foi tão simples: "Foram anos de muito trabalho e hoje podemos dizer que foi satisfatório. A caça diminuiu bastante, os incêndios florestais, também. E isso é resultado dessa aproximação com a comunidade".
Além do trabalho na Serra das Almas, a instituição tem atuado em outras frentes para ampliação de áreas preservadas, como a promoção e apoio para a criação de novas reservas ambientais: "Trabalhamos dentro de uma lógica de que existem regiões na Caatinga que precisam ser preservadas antes que desapareçam. Esses locais têm uma função muito importante em relação a serviços ambientais, proteção de nascentes, regulação do microclima, atração de chuvas, combate à erosão e fazer frente à questão da desertificação, pois as áreas protegidas têm uma função muito importante neste processo".
Além disso, de acordo com Rodrigo Castro, proprietários rurais são incentivados a criarem RRPNs, propriedades rurais particulares para ampliar as áreas protegidas na Caatinga e o governo do Estado é auxiliado na identificação de novas áreas para criação de Unidades de Conservação (UCs) públicas.
Neste contexto, Castro destaca a importância das UCs como estratégia para mitigar e promover adaptação às mudanças climáticas. Segundo ele, o agricultor que vive na Caatinga só terá alternativas se houver áreas com cobertura vegetal que possam garantir os processos ecológicos mínimos para assegurar a vida, o combate à erosão, o microclima e o controle de pragas.
"A floresta na Caatinga é igual às outras florestas, inclusive nos riscos ambientais atrelados. Se desmatar a Caatinga toda vai ser muito mais difícil enfrentar o aumento de temperatura que já esta acontecendo e vem mais forte no futuro. Sem áreas verdes e que retenham umidade, que protejam as nascentes dos rios, como é que se vai sobreviver ao aumento da temperatura nas próximas décadas entre 2ºC e 6º, conforme o previsto? O que isso implica em termos de propensão à desertificação? Aumenta a evaporação, que já é imensa. A água vai deixar de existir na Caatinga se não tivermos áreas preservadas", conclui.
Fonte: Diario do Nordeste
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