Excluíram as bandeiras dos partidos de esquerda do movimento para que
ele fosse “apartidário”. Ok. Mas desde que elas saíram, o volume de
pessoas nas ruas aumentou e as manifestações perderam em conteúdo. Vejo
gente saltando diante das câmeras de TV que nem no carnaval e assisto a
entrevistas onde os participantes não conseguem concatenar meia dúzia de
ideias para justificar por que estão ali. Resumem-se a dizer que
protestam “contra tudo”. Contra tudo o quê, cara-pálida? É mentira que o
Brasil esteja totalmente ruim para que seja preciso protestar contra
TUDO. É contra a Copa? Ótimo. Pelo menos é UMA razão. Quem protesta
contra tudo, a meu ver, não está protestando contra coisa alguma.
Afinal, o protesto é à vera ou é só para postar no Facebook?
Uma manifestação se distingue de uma turba pelas reivindicações e
pelas causas que possui. Uma manifestação sem rumo e sem causa pode se
transformar facilmente em terreno fértil para aproveitadores e
arruaceiros, como vimos diante da prefeitura de São Paulo na terça-feira
e, na noite anterior, diante do Palácio dos Bandeirantes.
Sim, eles são minoria, mas uma minoria de gente perigosa que agora já parte
para saques e destruição do patrimônio público e privado. Sou totalmente
contra o uso da violência em manifestações. Numa democracia, é
perfeitamente possível protestar sem partir para a ignorância.
Cabe à polícia investigar quem são estas pessoas e puni-las. Aliás, a
Polícia Militar brasileira tem sido um caso à parte nos protestos das
últimas semanas: como é possível que os policiais sejam capazes de bater
em manifestantes inocentes e cruzar os braços diante de vândalos? Será
que a PM não sabe decidir quando é ou não necessário intervir duramente?
Não conseguem distinguir manifestantes de arruaceiros? Que tipo de
treinamento recebem, então? Isso também é feito com dinheiro do
contribuinte, sabem?
Sou e sempre serei a favor do povo nas ruas, batalhando por seus
direitos, protestando e exigindo um futuro melhor. Isso é exercitar a
cidadania. Mas eu aprendi que manifestações têm pautas. Qual é
exatamente a pauta destes protestos? Se for pela tarifa, o pessoal do
Movimento Passe Livre deve se sentar para negociar com o prefeito
Fernando Haddad, que, a meu ver, errou em não fazer isto desde a
primeira hora. Se for por algo mais além da tarifa, como sentimos, os
manifestantes precisam encontrar um caminho, apresentar queixas
concretas, reivindicações factíveis. Vivemos em um país democrático, não
há governo tirano para derrubar. Se isso que estamos vivendo é uma
“primavera”, é primavera do quê?
UPDATE: Os prefeitos das capitais concordaram em
reduzir a tarifa. Vitória do Movimento Passe Livre, que conseguiu
mobilizar as pessoas em torno de um objetivo. Mas e agora, como ficam os
protestos contra “tudo”?
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