A extrema esquerda sonha com a revolução socialista, enquanto a direita quer derrubar a Dilma na marra.
Na quarta-feira 18, quase 30 anos depois do
memorável primeiro comício das Diretas Já, voltei à Praça da Sé. Naquele
25 de janeiro de 1984, todas os mais de 500 mil manifestantes que
estavam lá no comício (chamado pelo Jornal Nacional da TV Globo
de "festa" pela comemoração do aniversário de São Paulo) queriam a mesma
coisa: o fim da Ditadura com a realização de eleições diretas para
Presidente da República.
Ao voltar lá encontrei uma maioria de jovens estudantes idealistas, em grande parte organizados pelo Psol, PSTU, Partido da Causa Operária, Partido Comunista Operário, União da Juventude Socialista, entre outros. Esses estudantes gritavam pela revogação do aumento da tarifa, contra a Rede Globo, o Datena, o governo (qual?), a Copa, o Haddad e por uma revolução socialista.
Os manifestantes de classe média preferem levar cartazes contra Dilma. Com o apoio da elite anti-PT nas redes sociais, querem derrubar Dilma e também cancelar a Copa. Enquanto bares, lojas e restaurantes do entorno da Praça da Sé fecham freneticamente as suas portas, seus empregados se juntam aos demais trabalhadores do centro, em apressados passos para os ônibus e metrô, para tentar chegar em casa, depois de mais um dia exaustivo de trabalho.
Chegam cada vez mais manifestantes. Bandeiras de partidos são baixadas no grito. Só a do Brasil pode tremular sob aplausos. Homens mais velhos e mais bem vestidos distribuem, às centenas, panfletos, em papel de boa qualidade conclamando empresários a boicotarem o pagamento de impostos. Outros estudantes gritam palavras de ordem contra os donos das empresas de transporte coletivo. Muitos gritam contra a corrupção dos políticos. Não se veem PMs. Uma parte da manifestação vai para a frente da Prefeitura. A principio, em paz . Mas um grupo comandado por um "parrudo" rapaz de camisa branca, mais bem vestido, cabelo bem cortado e máscara contra gás novinha começa o ataque à Prefeitura. Entre pedradas, chutes, tiros de rojão desferidos por ele, o rapaz de vez em quando para e fala ao telefone. E chama mais mascarados para o ataque. Seria um provocador de direita querendo ver o circo pegar fogo? Logo depois botam fogo de verdade, em um caminhão de transmissão ao vivo da Record.
Mesmo assim muitos jornalistas das tevês, rádios e jornais elogiam a manifestação. Engraçado, em 62 anos de vida não me lembro de ter visto cobertura de manifestação política do povo, tão divulgada e elogiada pela imprensa brasileira! Os mais velhos me dizem que na Marcha com Deus pela Liberdade em 64 foi assim. Naquela época eu só tinha 14 anos e não compareci. Mesmo se tivesse mais idade, não iria. Ela acabou deflagrando o Golpe de 64 e uma Ditadura horrorosa que atrasou o Brasil e durou mais de 20 anos. Com a extrema esquerda sonhando com uma revolução socialista e com a direita querendo, na marra, derrubar a Dilma e conseguir o que ela não consegue nas urnas, não sei onde tudo isso vai parar.
Espero que não seja em outro Golpe como em 64. Entre a Marcha de 64 e as manifestações de hoje, eu prefiro a das Diretas Já em 1984. Lá éramos mais numerosos e todos sabiam o que queriam e não escondiam de ninguém: o direito de, no voto, decidir o nosso destino! Como numa democracia!
por Chico Mafiltani
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publicado
19/06/2013 13:56 CARTA CAPITAL
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