Maior exportador de carne do mundo, o Brasil também é líder em genética
bovina --mercado composto por touros e vacas que valem e rendem milhões
de reais.
No final de maio, uma vaca nelore foi vendida por R$ 2 milhões ao
empresário Maurício Odebrecht. Há quem diga que foi um bom negócio.
"Essa vaca tem uma filha que foi comercializada fora de leilão por R$ 1
milhão. Por isso, alguns acham que o valor não foi tão alto assim", diz
Eduardo Biagi, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores
de Zebu).
O vendedor da Hamina, como se chama a vaca, diz que esse investimento
pode ser recuperado em menos de 20 meses --período no qual a família
Odebrecht fará o pagamento do animal parcelado.
Segundo Bruno Vincintin, diretor da Rima Agropecuária, com a técnica de
transferência de embriões e "mães de aluguel", Hamina pode ter cerca de
60 filhos por ano. Considerando metade de fêmeas --vendidas em média por
R$ 100 mil-- em um ano a renda seria de R$ 3 milhões só com as filhas do animal, que também serão reprodutoras.
"É um animal muito rentável. Optamos por vendê-lo mais pela publicidade
que ele daria ao leilão do que pelo retorno na comercialização."
Jidee da Boi Gordo, novilha limousin, saiu por R$ 98 mil no 2º Leilão Boi Gordo, em Itapetininga (SP)
A Hamina faz parte do "mercado de pista", no jargão do setor. Trata-se
dos badalados leilões de animais de elite, que movimentam milhões e já
levantaram suspeitas de lavagem de dinheiro.
"O sistema de controle fiscal é muito mais rigoroso hoje do que no
passado. A movimentação financeira é acompanhada", afirma Sérgio De Zen,
pesquisador do Cepea e professor da Esalq.
Hoje, os leilões são estrelados por globais. Galvão Bueno, Ana Maria
Braga, Tarcísio Meira e Regina Duarte são alguns dos famosos
investidores em reprodutores.
"Não existem os colecionadores de obras de arte e de automóveis antigos?
Também há quem goste de investir em melhoradores [de genética]", diz
Ian Hill, diretor da Agropecuária Jacarezinho, uma das maiores
vendedoras de reprodutores do país.
A Jacarezinho, porém, atua em outro segmento da área de melhoramento
genético. Tem um foco mais comercial e, segundo Hill, vende animais mais
adaptados à realidade da pecuária brasileira.
"Esses animais [vendidos nos leilões] são criados em cochos, mas 90% da pecuária no Brasil é pasto", diz.
TATIANA FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO
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