Um dia após a Polícia Federal cumprir a ordem de reintegração de posse na Fazenda Buriti, na quinta, 30, em Sidrolândia, interior de Mato Grosso do Sul, os indígenas voltaram a ocupar a propriedade, desta vez queimando instalações do curral e pontes de acesso à sede da propriedade rural. A casa da família do produtor Ricardo Bacha já havia sido queimada ontem durante confronto com as autoridades, quando um indígena foi morto em conflito.
Em coletiva de imprensa realizada sexta-feira, 31, a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul, Sistema Famasul, alertou para as famílias de trabalhadores que ainda estão dentro da propriedade e correm risco de vida. “A posse foi reintegrada, mas o dono não pode ir sozinho porque senão é morto. Se for acompanhado, corre risco de conflito. Então a recomendação é afastar e cobrar das autoridades o uso das forças nacionais para evitar uma guerra armada”, resumiu o presidente do Sistema Famasul, Eduardo Riedel.
Duas das soluções mais discutidas para o caso são o pagamento das terras em litígio pelo Governo Federal e a apresentação de laudos técnicos, como feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Unidade Monitoramento por Satélite, que resultou no embargo das demarcações no estado do Paraná pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Embora seja o suficiente para pacificar as áreas e evitar um princípio de guerra civil, o histórico aumento das áreas indígenas no Brasil indica que não é a solução para a dignidade das etnias. Neste ponto, há consenso entre as partes. Na semana passada, após audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, o vereador indígena Aguilera de Souza afirmou que a própria Funai, a Fundação Nacional do Índio, que conseguiu ampliar as reservas em 874% de 1988 até 2006, está distante da realidade das aldeias. “É só área que resolve o problema dessas comunidades? Tem que fazer uma reflexão mais profunda”, questionou Eduardo Riedel.
O presidente do Sistema Famasul lembra de uma aldeia urbana em Dourados, cidade do interior do Mato Grosso do Sul, onde 11 mil indígenas vivem em situação precária de alimentação, saúde e educação. Segundo Riedel, tem de haver uma política indigenista bem estruturada neste sentido, o que hoje inexiste. “Nós temos que avaliar bem e discutir uma política séria. Tem muita liderança indígena que não quer esse tipo de ação (invasões)”, conclui Riedel, alertando que o fim das ocupações à força acirra os ânimos e não resolve o problema.
Na manhã desta sexta mais uma fazenda foi invadida no MS, desta vez em Aquidauana, a 130 km da capital Campo Grande. Ao fim da tarde de sexta-feira, a CNA, Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, divulgou nota oficial pedindo o fim das demarcações até que o Supremo Tribunal Federal se pronuncie sobre o caso.
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