Fabrício Boliveira e Ísis Valverde em FAROESTE CABOCLO de René Sampaio
Surpreendendo a muitos, Faroeste Caboclo
(2013), do estreante em longas René Sampaio, prova que é possível
adaptar com qualidade um dos maiores hinos da mais cultuada banda de
rock brasileira da década de 1980 para o cinema. E ainda por cima
contribuir com mais um belo filme de gênero para nossa cinematografia
Um dos projetos mais arriscados do cinema brasileiro recente, dada a
aura mítica em torno da canção em si e do legado como um todo da Legião
Urbana, Faroeste Caboclo é um filme raro. Não
que seja uma obra vanguardista ou coisa do tipo. Não. É um filme com
narrativa clássica, mas que entra num cinema de gênero pouco produzido
no Brasil atualmente. No caso, o filme policial, e que, em se tratando
de Faroeste Caboclo, também tangencia o western spaghetti
nos momentos de tiroteios. Aliás, já na abertura do filme, os olhos de
João de Santo Cristo (Fabrício Bolívar) aparecem em primeiríssimo plano.
Assim como a canção, que tem seus momentos de calmaria e de
violência, o filme reveza momentos de tranquilidade, os que mostram os
encontros entre João e Maria Lúcia (Ísis Valverde), com as sequências
que mostram os ataques do traficante playboy Jeremias (Felipe Abib) e
sua gangue ao negro pobre e “pé rapado” que conseguiu aquilo que ele
nunca conseguira: ganhar o coração de Maria Lúcia, a bela e rica filha
de um senador (Marcos Paulo).
Um dos aspectos positivos do filme é já trazer um personagem em tons
de cinza, que não hesita em matar um policial quando deixa sua cidade
natal, no interior da Bahia, para chegar a Brasília e conseguir emprego
com o primo Pablo (Cesar Trancoso), que trafica maconha da Bolívia e do
Paraguai. Mais adiante, saberemos o motivo por que ele matou aquele
policial, através de alguns dos flashbacks de sua infância que ajudam a formar para o espectador a personalidade do protagonista.
Para quem gosta da Legião Urbana e do rock de Brasília, há pelo menos
dois momentos muito especiais que dão muito prazer de se ouvir no
cinema: a primeira vez que ele chega numa festa em Brasília, quando o
Aborto Elétrico está tocando “Tédio (com um T bem grande pra você)”, e
uma outra, mais movimentada, ao som de “Até quando esperar”, da Plebe
Rude. Philippe Seabra, o líder da Plebe, inclusive, é o responsável pela
trilha sonora.
Nem tudo que é narrado na canção é transposto para o filme, mas todas
as liberdades tomadas pelo diretor estreante em longas René Sampaio são
bem-vindas. Inclusive a belíssima fala final de João de Santo Cristo.
Uma das liberdades do diretor é não dar qualquer relação sacra ao
personagem, algo mais próprio da poética de Renato Russo, que era bem
ligado a religiosidade e esoterismo. Se João passa por uma via-crúcis,
ela é mostrada de maneira seca e violenta, sem direito aos aplausos no
final ou a câmeras de televisão.
Diferente de João, que é um personagem mais complexo, os vilões são
tipicamente vilões. Caso do policial corrupto vivido por Antonio Calloni
e do já citado Jeremias. Eles fazem com que o “ódio por dentro” de João
seja sentido também por nós, principalmente nas sequências finais. Por
isso o registro de violência que o diretor apresenta é imprescindível
para tornar o filme uma obra de respeito. Diria que chega até a
endurecer um pouco os nossos corações no que se refere ao amor entre
João e Maria Lúcia. Ainda assim, é uma bela história de amor quase
impossível, que muito deve às interpretações de Boliveira e Ísis.
No mais, quem é fã da canção que deu origem ao filme não deve deixar
passar a oportunidade de ouvi-la integralmente no cinema durante os
créditos finais. Certas coisas simplesmente não têm preço.
Ficha técnica
FAROESTE CABOCLO (Brasil, 2013), de René
Sampaio. Com Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Felipe Abib, Antonio
Calloni, César Trancoso, Marcos Paulo, Flávio Bauraqui, Lica Oliveira ,
Cinara Leal, Juliana Lohmann , Rodrigo Pandolfo, Leonardo Rosa, Tulio
Starling, Romulo Augusto. 100 min. Europa Filmes. 16 anos.
VEJA O TRAILLER:
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