Um complemento alimentar que promete melhorar a memória de pacientes em
estágio leve de alzheimer entrou discretamente no mercado brasileiro em
setembro de 2012 e já é usado por mais de 2.000 pessoas no país.
Apresentado oficialmente para o público ontem, o produto, porém, divide
especialistas. Para alguns, faltam pesquisas que comprovem os benefícios
do composto.
O suplemento é uma mistura de nutrientes --incluindo óleo de peixe,
ômega 3, selênio e vitaminas-- que têm o objetivo de "turbinar" o
cérebro.
Eles ajudariam na formação da membrana dos neurônios, melhorando, assim, as sinapses --a comunicação química dessas células.
Por enquanto, os efeitos do Souvenaid, fabricado pela Danone, só estão
documentados em um cenário: pacientes em estágio muito leve da doença e
que ainda não fazem uso de remédios que inibem a beta-amiloide, proteína
apontada como a culpada pelo mal de Alzheimer.
Em dois estudos patrocinados pela Danone com pessoas nessas condições,
quem usou o composto teve melhora na memória em relação ao grupo que
recebeu placebo.
Mas, em outro teste, com pacientes em um estágio moderado da doença e que tomavam remédios, a bebida não fez diferença.
EFEITO PREVENTIVO
Especialistas ouvidos pela Folha disseram que, com base nos estudos já
apresentados, ainda é precipitado falar em uso preventivo contra o mal
de Alzheimer.
"Ainda não há resultados sobre o uso [do suplemento] por pessoas
saudáveis ou por pacientes leves que já usem medicação", afirma a
neurocientista Luísa Lopes, pesquisadora do Instituto de Medicina
Molecular de Lisboa.
"Não podemos afirmar que existe efeito protetor, mas os dados permitem
inferir que isso é possível", disse Marcelo Borges, presidente da
Divisão de Nutrição Especializada da Danone.
"De qualquer maneira, o objetivo não é substituir a medicação. É algo
complementar ao tratamento", diz Cláudio Sturion, diretor médico da
divisão, destacando que o Souvenaid não interfere no uso do remédio e
não tem efeitos adversos sérios.
A combinação do suplemento alimentar e da medicação, porém, dobraria os
gastos dos pacientes, já que os dois têm preços similares.
O neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Instituto da Memória da
Unifesp, disse já ter apresentado a bebida para alguns de seus
pacientes, mas diz que, por causa do preço --R$ 10 cada potinho, que
deve ser tomado diariamente--, muitos preferem usar só a medicação.
Também à venda na Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, Irlanda e no Reino
Unido, o composto deve ser lançado em mais dez países até o fim de 2013
e nos EUA em 2014, dependendo da aprovação das agências reguladoras.
Folha de São Paulo
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