“A
fadiga (do homem da cidade) é devida a inquietações que poderiam ser evitadas
por uma melhor filosofia da vida e um pouco mais de disciplina mental. A maior
parte dos homens e mulheres não governam eficazmente os seus pensamentos. Quero
com isto dizer que eles não podem deixar de pensar nos assuntos que os
atormentam, mesmo quando nesse momento nenhuma solução lhes podem dar. Os
homens levam muitas vezes para a cama as suas inquietações em matérias de
negócios e, durante a noite, quando deviam ganhar novas forças para enfrentar
os dissabores do dia seguinte, é nelas que pensam, repetidas vezes, embora
nesse instante nada possam fazer; e pensam nos problemas que os inquietam, não
de forma a encontrar uma linha de conduta firme para o dia seguinte, mas nessa
semi-demência que caracteriza as agitadas meditações da insônia.
De manhã, qualquer coisa dessa demência
noturna persiste ainda neles, obscurece-lhes o julgamento, rouba-lhes a calma,
de forma que qualquer obstáculo os enfurece. O homem sensato só pensa nas suas
inquietações quando julga de interesse fazê-lo; no restante tempo pensa noutras
coisas e à noite não pensa em coisa nenhuma. Não quero dizer que numa grande
crise, por exemplo, quando a ruína está iminente, ou quando um homem tem razões
para suspeitar que a mulher o atraiçoa, seja possível, a não ser a alguns
espíritos excepcionalmente disciplinados, afastar o tormento nos momentos em
que nada se pode fazer para o remediar. Mas é perfeitamente possível afastar as
pequenas inquietações de todos os dias, a não ser que seja necessário
enfrentá-las. É surpreendente como a felicidade e a eficiência aumentam quando
se cultiva um espírito ordenado que pensa adequadamente no momento preciso em
vez de inadequadamente em todos os momentos. Quando uma decisão difícil tem de
ser encontrada, logo que se reúnem todos os dados aplica-se ao assunto a melhor
reflexão e decide-se; essa decisão, uma vez tomada, não deve ser corrigida, a
não ser que se chegue ao conhecimento de novos fatos. Nada é tão fatigante como
a indecisão e nada é tão fútil.”
Bertrand
Russell, in A Conquista da Felicidade
Via Rapaduracult
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