Vivendo na caatinga, um ambiente castigado pela escassez
de chuvas e aridez, o sertanejo é um bravo homem da terra. Poucas civilizações
no mundo conseguiriam alcançar o feito dessa gente corajosa. O sertão,
com seus ventos bíblicos, calmarias pesadas e noites frias, impressiona.
Cortado por veredas e árvores retorcidas em desespero, todo ele são
monótonos caminhos ressequidos. As "pueiras", lagoas mortas,
de aspecto lúgubre, são o único oásis do sertanejo.
Ele sobrevive porque é uma raça forte. Assim como o cacto mais
resistente, o sertanejo foi feito para o sertão. Tem o pêlo,
o corpo e a psicologia próprios para suportar o suplício da
seca. Conhece profundamente a flora e fauna. Como os cactos , o mandacaru
e toda natureza adaptada ao árido, o sertanejo sobrevive com muito
pouco. Água é uma dádiva que vê de vez em quando.
Com todas as adversidades, ainda ama o sertão, e dificilmente se habitua
a outro lugar. Desde pequeno convive com a imagem da morte. Sua grande vitória
é chegar ao dia seguinte, comemorando o triunfo da vontade de viver.
Origens
No sertão, a mistura de raças deu-se mais entre brancos e índios.
O jesuíta, o vaqueiro e o bandeirante foram os primeiros habitantes
brancos que migraram para a região. Deram origem aos tipos populares
que compõem o sertão: o beato, o cangaceiro e o jagunço.
Todos com um senso de tradição levado a ferro e fogo, honradez
como pouco se vê hoje em dia e incrível fervor religioso, herança
dos missionários da Igreja. O grande ícone do sertão
é o conhecido Padre Cícero, beato que se tornou líder
messiânico em Juazeiro do Norte.
Sertanejo
Quanto às mulheres sertanejas, estas são muito diferentes das
do litoral: rezadeiras, rendeiras, mocinhas ingênuas, bruxas velhas
e alcoviteiras. Mulheres de coragem e encrenqueiras.
Ao tentar compreender a psicologia do sertanejo, o escritor
e jornalista Euclides da Cunha, através de sua famosa obra “Os
Sertões”, fez um ensaio revelador sobre a formação
do homem brasileiro. Desmistificou o pensamento vigente entre as elites do
período, de que somente os brancos de origem européia eram legítimos
representantes da nação. Mostrou que não existe no país
raça branca pura, mas uma infinidade de combinações multirraciais.
Além disso, foi o primeiro a reportar cuidadosamente o episódio
da Campanha de Canudos, um festival de massacres de homens e mulheres que
entrou para a história.
Por essas e outras, o homem do sertão é um “grande personagem
numa paisagem inóspita”, que merece toda a admiração
devida por sua luta diária pela sobrevivência.
Fonte: TV Cultura ; Editora Moderna
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