As manifestações dos médicos no Brasil trazem à tona
um debate muito maior, feito mundo afora: como melhorar os atuais
sistemas
Manifestações de médicos,
pramédicos e outros profissionais da saúde. Manifestações da população.
Pautas não faltam. O ato médico. Limites ao exercício da profissão.
Menos filas nos hospitais. Mais investimento na saúde. A favor ou contra
a homossexualidade como doença a ser curada. O que todos exigem, no
fundo, é um denominador comum óbvio, mas ilusório. Saúde de qualidade
para todos.
E não somente para quem pode pagar. A boa
saúde não se restringe a bons hospitais e médicos. É um conjunto de
medidas e estratégias que envolve todos com alguma ligação com o cuidado
de doentes. Temos nosso modelo atual: SUS e saúde suplementar, privada.
Funciona até certo ponto, mas está longe do mínimo ideal.
A preocupação com modelos vigentes não é
restrita ao Brasil. Estados Unidos, França, Inglaterra, cada qual com
seu próprio modelo de atendimento à população, começam a rever seus
sistemas de saúde. A discussão é profunda e envolve todos os segmentos
da sociedade. Coisa que aqui ainda está dando seus passos iniciais.
Para se ter uma ideia, o NHS (Sistema
Nacional de Saúde) da Inglaterra, visto como um modelo de sucesso que
completou 65 anos, parece fadado à aposentadoria. Nunca se discutiu
tanto e se reclamou tanto do NHS como nas últimas semanas. Revistas
científicas, leigas e até tabloides dedicam parte grande de suas páginas
a esse assunto. Quanto se gasta. Quanto se arrecada. Quais são os
resultados e quanto de impacto real na qualidade dos atendimentos e na
vida dos pacientes ingleses.
Problemas como cortes
nas verbas governamentais para o NHS, descontrole das filas de espera
nos hospitais, internações prolongadas, utilização desproporcional de
exames e custos cada vez mais elevados da medicina obrigaram as
autoridades inglesas a questionar a sabedoria de manter esse sistema no
formato atual. Rapidamente começaram a procurar opções viáveis, dentro
das limitações e condições locais. E quando digo rapidamente, isso foi
deflagrado semanas após os alarmes e as reportagens alcançarem as bancas
de jornais em Londres.
Por circunstâncias particulares minhas,
tenho visitado com certa frequência a Inglaterra. Acreditem em mim, o
SUS deles, ou NHS, está anos-luz à frente do nosso, na qualidade e no
atendimento à população. Assim mesmo o alarme iniciou uma onda que
atingiu todos. De médicos a parlamentares e ministros. Enquanto isso, as
decisões sobre o melhor modelo para cuidar da saúde do brasileiro
aguardam sérias discussões, envolvimento genuíno de todos os
responsáveis para resolver de fato os males do nosso SUS que afligem a
maioria dos brasileiros. Criar e exigir condições mínimas adequadas em
todos os hospitais públicos ou privados em todos os municípios e regiões
do País, além de nas instituições de ensino formadoras de médicos e
enfermeiros, organizar e regulamentar a atuação da medicina suplementar
privada são urgências nacionais.
Discutir e estabelecer um novo modelo de
saúde no Brasil tem de acontecer logo. Estamos atrasados demais. E os
doentes ainda aguardam de seis a oito meses para ter sua primeira
consulta com diagnóstico de doenças graves. Não precisa acreditar em
mim. Ligue para qualquer hospital público e tente marcar uma consulta. É
claro, não vale recorrer ao auxílio de um político para arrumar encaixe
ou furar a fila.
por Riad Younes CARTA CAPITAL
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