sábado, 28 de setembro de 2013

CIENTISTAS DIVULGAM NOVO RELATÓRIO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A comunidade científica internacional divulgou ontem novo relatório sobre as mudanças climáticas



Reunidos até ontem em Estocolmo, na Suécia, os pesquisadores integrantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgaram a primeira parte de seu quinto relatório de avaliação (AR5), uma nova atualização dos prognósticos sobre os rumos das mudanças climáticas globais. Nele, os cientistas constatam uma elevação do nível do mar esperada para o próximo século, que seria causada pelo aumento do degelo na região da Antártica e do Ártico.


No cenário mais otimista, com corte de emissões e políticas climáticas, o aumento da temperatura terrestre poderia variar entre 0,3 °C e 1,7 °C de 2010 até 2100 e o nível do mar poderia subir entre 26 e 55 centímetros ao longo deste século.

Já no pior cenário, com altas emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução, o aquecimento da Terra poderia fazer com que o nível dos oceanos aumente entre 45 e 82 centímetros. O documento mostra também que o nível dos oceanos aumentou 19 centímetros entre 1901 e 2010.

Uma mudança da escala de dezenas de centímetros na projeção não é pequena. A margem de erro para o cenário mais pessimista chega a quase um metro de altura, o que afetaria não apenas nações insulares, mas as metrópoles costeiras do Planeta.

Considerando as possíveis consequências, eles tentam adotar respostas cada vez mais precisas. "Reduzimos a margem de incerteza de forma considerável", declarou Anny Cazenave, especialista em observação dos oceanos no Laboratório Francês de Estudos em Geofísica e Oceanografia Espacial (Legos).

A coordenadora do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lidriana Pinheiro, reconhece que uma elevação da ordem de 80 centímetros no nível do mar potencializaria o processo erosivo que já acomete parte da nossa costa, a exemplo do que ocorre em praias cearenses como Iparana, Pacheco e Caponga.

Segundo a pesquisadora, o processo existente depende tanto de fatores naturais, como a flutuação no nível do mar e a própria morfologia da costa; quanto da influência humana, com o barramento de rios que impede o transporte natural dos sedimentos e o avanço urbano em direção à área de praias.

"É claro que o foco de erosão não se dá de uma forma só ao longo do litoral. Onde tem falésia, por exemplo, é diferente de onde não tem", explica. A professora alerta que diante dos prognósticos, é necessário que planos de ordenamento e gerenciamento urbanos de cidades litorâneas incluam a convivência com a erosão costeira para evitar a destruição do patrimônio material e histórico local.

"As obras nessas áreas precisam atentar para os cenários futuros, ainda que ainda haja controvérsia em relações a essas previsões na comunidade científica", afirma a professora.

Vulnerabilidade

No Brasil, que tem mais de oito mil quilômetros de praia, a previsão levanta a discussão sobre o futuro de milhares de cidades litorâneas. O mais completo estudo já feito no País sobre os impactos da elevação do nível do mar revela que cerca de 40% das nossas praias são vulneráveis.

Temperatura pode subir 7ºC

Genebra. Os modelos climáticos que avaliam a temperatura para todo o globo apontam para uma elevação muito provável (probabilidade de mais de 90%) da temperatura em toda a América do Sul, com os valores mais altos para o sul da Amazônia.


Segundo os dados do IPCC, a projeção para o Brasil é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) no País até o fim do século no cenário otimista de emissões de gases de efeito estufa; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a 7°C (Amazônia) no pior cenário.

Também é provável (probabilidade de mais de 66%) que ondas de calor se tornem mais frequentes na Amazônia e no Nordeste. O IPCC afirma ainda que é muito provável que o nível de precipitação suba na bacia do Prata e caia no Nordeste e na porção oriental da Amazônia.

A tendência é a mesma apontada há pouco mais de duas semanas no 1º relatório nacional de avaliação dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. O trabalho focado na nossa realidade foi compilado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, a versão nacional do IPCC.

"Os dois estudos vão na mesma linha. Talvez não nos mesmos números porque os modelos climáticos usados diferem um pouco, mas a tendência é a mesma", comenta o pesquisador José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), membro tanto do IPCC quanto do PBMC.

Ele lembra que há dois anos o Nordeste tem vivenciado uma de suas piores secas, evento que, se levado em conta dentro de uma sequência de outros semelhantes, pode ser interpretado como um sinal de mudanças climáticas. "Ainda não é uma catástrofe, mas se nada for feito, as coisas podem piorar", diz.

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