Hérnia é a palavra usada para
descrever a projeção ou protusão de determinada estrutura através de um
orifício ou canal. Uma hérnia de disco ocorre quando uma parte do disco
intervertebral se projeta através do forame intervertebral ou em direção
à medula espinhal, podendo provocar compressão de uma das raízes
nervosas (veja a figura abaixo).
O
disco intervertebral é composto por um região mais externa e rígida,
chamada anel fibroso, e uma região central, composta por uma material
gelatinoso, chamado núcleo pulposo. O disco intervertebral é maleável e
funciona como uma mola amortecedora, sendo capaz de se comprimir quando
há peso sobre a coluna, e relaxar quando a coluna está em repouso, sem
receber peso algum.
Quando o disco intervertebral é exposto a uma
crônica postura errada da coluna, a movimentos repetitivos, a excesso de
carga ou a traumas, ele pode sofrer desgaste do seu anel fibroso,
provocando uma fissura por onde o núcleo pulposo pode herniar,
empurrando parte do disco em direção a uma das raízes nervosas. Se o
disco hernia o suficiente para comprimir a raiz nervosa, o paciente
passará a apresentar os sintomas característicos da hérnia de disco.
A
maior parte das hérnias de disco surge na coluna lombar, que é a região
da coluna que acaba tendo que suportar mais peso e sofre mais estresses
ao longo da vida. Em segundo lugar vêm as hérnias de disco da coluna
cervical. Hérnias da coluna torácica são mais raras.
Causas a hérnia de disco
Conforme
vamos envelhecendo, o disco intervertebral vai se tornado cada vez
menos flexível e elástico, ficando mais exposto a fissuras e roturas. A
maioria das protusões discais ocorre em pessoas com mais de 35 anos.
Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de uma hernia discal, podemos citar:
- Trabalhos que demandam carregar pesos excessivos.
- Fazer musculação sem devida orientação, sobrecarregando a coluna.
- Levantar pesos do chão forçando a coluna (o correto não é dobrar a
coluna para pegar algo do chão, mas sim se agachar para levantá-lo).
- Traumas nas costas.
- Má postura.
- Trabalhos que demandam movimentos repetitivos da coluna.
- Sedentarismo.
- Tabagismo.
Na
maioria dos casos, a hérnia não surge de forma aguda. Ela costuma ser
um processo de estresse e lesão repetitiva do disco. Habitualmente,
exceto pelos casos de hérnias que surgem após traumas ou quedas, os
pacientes não se recordam de um evento específico que tenha desencadeado
os sintomas. A dor pode surgir subitamente em repouso.
Sintomas da hérnia de disco
A
hérnia de disco propriamente dita não dói. Se o disco intervertebral
estiver herniando, mas não houver compressão relevante da raiz nervosa
adjacente, o paciente pode não apresentar sintoma algum.
Do mesmo
modo, quando há sintomas, eles podem ser leves, moderados ou intensos e
incapacitantes, dependendo do grau de lesão da raiz nervosa. A
compressão e lesão da raiz nervosa recebe o nome de radiculopatia.
Os sintomas mais comuns da hérnia de disco são dor, perda da sensibilidade, formigamento e fraqueza em um dos membros.
A
localização dos sintomas depende da região da coluna vertebral que
apresenta a hérnia de disco. Vamos citar algumas das apresentações mais
comuns.
Sintomas da hérnia lombar e sacral
A
hérnia de disco mais comum ocorre na 5ª vértebra lombar (L5). O seu
quadro clínico costuma ser de dor lombar, com irradiação por toda região
lateral de uma das pernas. Fraqueza nos pés também é muito
caraterístico. O paciente pode ter dificuldade de realizar movimentos,
como dorsiflexão dos pés, extensão dos dedos, inversão e eversão dos
pés. Perda de sensibilidade na porção lateral da perna e do pé também
podem ocorrer.
A hérnia de disco das vértebras L2, L3 ou L4 também
são comuns e apresentam sintomas semelhantes entre si. O quadro é de
dor lombar com irradiação para parte anterior da coxa, até o joelho.
Pode haver fraqueza para extensão do joelho ou flexão do quadril. A
perda de sensibilidade costuma ocorrer na porção anterior da coxa e na
face interna da panturrilha, descendo até o arco do pé.
A hernia
da primeira vértebra sacral (S1) pode causar dor ciática (este tipo de
dor também pode ocorrer com compressão de L5 ou L4), que se caracteriza
por dor lombar e no quadril, que irradia pela porção posterior e/ou
lateral da coxa, podendo ir até o calcanhar. Fraqueza para extensão da
perna e flexão dos dedos podem estar presentes, assim como perda de
sensibilidade na região posterior do membro inferior.
Sintomas da hérnia cervical
As hernias cervicais mais comuns ocorrem entre as 5ª, 6ª e 7ª vértebras (C5, C6 e C7).
As
hérnias de C5 costumam causar fraqueza e dor na musculatura do pescoço,
ombro e início do braço. Pode ocorrer também perda de sensibilidade na
região da axila.
As hérnia de C6 é a hernia cervical mais
frequente, podendo causar fraqueza e dor na musculatura do pescoço,
ombro e braço, acometendo bíceps e antebraço. Pode ocorrer também perda
de sensibilidade na região lateral do antebraço até o polegar e dedo
indicador.
As hérnia de C7 pode causar dor na musculatura do
pescoço, ombro, dedo médio e mão. A fraqueza costuma ocorrer no músculo
tríceps. Pode surgir também perda de sensibilidade na região do tríceps,
irradiando para mão e dedos indicador e médio.
Diagnóstico da hérnia de disco
Na
maioria dos casos, o exame físico e a história clínica são suficientes
para o diagnóstico de uma hernia discal. Se o neurologista quiser
comprovar a existência da hérnia ou descartar outras causas de
radiculopatia, alguns exames podem ser solicitados. Entre os mais comuns
estão a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.
Tratamento da hérnia de disco
O
tratamento conservador, com repouso, fisioterapia, compressas mornas,
educação postural e/ou acupuntura, alivia os sintomas em mais de 90% dos
pacientes com hérnia de disco. A maioria se recupera, tornando-se aptos
a retornar para as suas atividades habituais em um ou dois meses.
Exames de imagem, como tomografia ou ressonância mostram que, com
tratamento adequado, a protusão discal encolhe-se ao longo do tempo,
diminuindo a compressão da raiz nervosa e provocando melhora dos
sintomas.
Medicamentos para hérnia de disco.
Em
geral, analgésicos comuns e anti-inflamatórios aliviam bem os sintomas
da radiculopatia. Em alguns casos mais graves, medicamentos mais fortes
podem ser necessários, como tramadol. Medicamentos que agem sobre dor de
origem neurológicas também podem ser úteis, como gabapentina,
pregabalina, duloxetina ou amitriptilina. Relaxantes musculares ou
diazepam também ajudam a aliviar a dor. Em alguns pacientes, o
neurologista pode indicar a injeção local com corticoides para diminuir a
inflamação do nervo .
Cirurgia para hernia de disco
Atualmente
apenas uma minoria dos pacientes com hérnia de disco precisa de
cirurgia. O tratamento cirúrgico das hérnias discais está indicado nos
casos em que o tratamento conservador não oferece melhora após 6
semanas, quando o quadro de fraqueza muscular torna-se progressivamente
pior ou quando a dor e a fraqueza são incapacitantes.
A cirurgia
mais comum consiste na remoção da parte herniada do disco, aliviando a
compressão do nervo. Em alguns casos o disco intervertebral inteiro
precisa ser removido e o as duas vértebras são fundidas. Outra opção é
remoção do disco avariado e substituição por um disco artificial.