quinta-feira, 10 de outubro de 2013

BARRIGUINHA: A (IM)PERFEIÇÃO

 
Retomo as loas e homenagens a Vinícius de Moraes, cujo centenário é motivo de festa neste mês, com a reciclagem de uma crônica que dialoga com o poema “Receita de mulher”.
A mulher tem que ter uma barriguinha, nem que seja mínima, mas que haja uma hipótese de barriguinha.
Que haja uma hipótese de barriguinha, repito o poeta, depois de alertado por uma passional vinissólaga paulistana.
Que haja uma hipótese de barriguinha.
Essa é do mais safado dos nossos mulherólogos, na sua receita de beleza feminina.
Naquele mesmo poema em que ele pede desculpas às muito feias –devia ter bebido pouco naquele dia.
No mesmo poema que diz da beleza fundamental brota esse belo paradoxo para os padrões atuais.
Que haja uma hipótese de barriguinha. Nesse verso acertou em cheio. Depois de nove casamentos, o cara era um safo, o homem que sabia demais.
É preciso que haja, pelo menos, uma hipótese de barriguinha. Decorei, jovens. Palmas, poeta.
Aquela secura de tudo, além de fora da realidade anatômica, não é apreciável.
Chega de tábua. Isso é coisa boa apenas na passarela, como mulher-cabide para os estilistas.
Que haja aquela dobrinha quando a mulher se senta. A realíssima dobrinha da fêmea. Espetáculo.
E que não fique apenas na hipótese. Que haja uma barriguinha mesmo.
Pelas mulheres reais. Sem lipo, mas com muito desejo e outras aspirações.
Todo o segredo está na capacidade de variadas safadezas. Nunca no tamanho ou no peso.
Sem imperfeição não há tesão, que me perdoem as certinhas da praça.
E fica o mantra, pela milésima vez, à guisa de educação sentimental aos moços, pobres moços: homem que é homem não sabe, nem procura saber, a diferença entre estria e celulite.
POR XICOSÁ

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